quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Terras da Reforma Agrária asseguram influência do PC no Alentejo



'Raio X' ao bastião do partido liderado por Jerónimo de Sousa.

Poucas horas depois de o PCP ter perdido o bastião de Beja, cuja autarquia liderava desde o 25 de Abril, João Honrado, militante comunista da "velha" guarda com mais de 13 anos cumpridos nos calabouços da PIDE, confessava a sua surpresa, mas dizia ao DN que o mundo "não acabou". "Temos de encarar esta situação do ponto de vista revolucionário e trabalhar para a inverter."

Embora o mundo não tenha acabado, a forma como ele se organizava conheceu profundas alterações na sequência do último ciclo eleitoral - o Alentejo deixou de ser "vermelho". À perda de Beja e de Aljustrel, vila mineira tradicionalmente com forte implantação comunista, somaram-se outras derrotas no Alentejo, como Sines (cujo autarca, Manuel Coelho, deixou o PCP para encabeçar uma lista de independentes), Viana do Alentejo ou Vila Viçosa.

Nos 14 municípios do distrito de Évora, a CDU lidera apenas 4, todos eles vizinhos, apelidados por um autarca socialista como sendo uma espécie de "bloco de Leste". Em Vendas Novas, Montemor-o-Novo, Arraiolos e Mora, o PC continua a ser "quem mais ordena", acumulando expressivas votações nas legislativas (onde, por norma, a CDU é a coligação mais votada) com retumbantes vitórias nas autárquicas (acima dos 60 por cento). A estes concelhos soma-se o de Avis, liderado pelo PCP desde o 25 de Abril e onde a Reforma Agrária teve uma expressão mais significativa.

Para Luís Simão, 42 anos, licenciado em Engenharia Agrícola e novo presidente da Câmara Municipal de Mora, cargo no qual sucedeu ao "histórico" José Sinogas, a explicação para este sucesso eleitoral tem a ver, por um lado, com as raízes históricas do partido e, por outro, com o trabalho realizado nas autarquias.

"Partimos para cada eleição com promessas e com propostas que ao longo do mandato fazemos questão de cumprir. Isso é fundamental na hora do voto", diz o autarca ao DN, reconhecendo que a mesma fórmula não pode ser trasladada para as legislativas, onde as opções surgem "quase sempre" bipolarizadas entre PS e PSD. "Muitos eleitores comunistas, seja em que região do país for, não hesitam quando se coloca a questão de escolher entre Manuela Ferreira Leite e algum candidato mais à esquerda".

Já quanto à perda de influência do PCP nas autarquias do Alentejo, Luís Simão diz que é "difícil de entender". Avança uma explicação: "Pode ter a ver com o reconhecimento de mais capacidades aos candidatos de outros partidos." Mas, rapidamente, "amortece" o discurso: "Repare que, mesmo nesses casos, as votações da CDU são elevadas. Em Évora, por exemplo, o PS ganhou, mas com uma vantagem relativamente curta."

Em Mora, a Matemática não assume especial complexidade: 61 por cento para a CDU, votação que sobe para 73,7 por cento na freguesia de Cabeção, uma das mais expressivas a nível nacional. "É uma terra com grande tradição antifascista, em que muitas pessoas foram presas e torturadas pela PIDE e cuja memória perdura", explica o autarca.

Nestes cinco concelhos, logo depois do 25 de Abril, foram criadas 71 Unidades Colectivas de Produção (UCP), que ocuparam uma área de cerca de 210 mil hectares de terra. Antigo deputado do PCP, ex-membro do Comité Central e organizador das conferências de Reforma Agrária, António Murteira diz ao DN não ser possível estabelecer uma "relação directa" entre o movimento das ocupações de terra e os melhores ou piores resultados eleitorais agora obtidos pelo PCP.

Até porque, sublinha, nalguns concelhos onde houve forte implementação das UCP, o PCP perdeu a gestão da câmara municipal, como é o caso de Beja. E noutros, onde a força da Reforma Agrária nunca foi tão evidente, como o Crato, a autarquia foi reconquistada pela CDU nas últimas eleições.

"A memória da opressão dos antigos latifundiários será um dos elementos que influencia a vitória do PCP mas não será seguramente o único nem creio que, nesta altura, seja o mais importante", assinala António Murteira, apontando o trabalho dos autarcas e a própria composição social dos diversos concelhos como "contributos" para a manutenção de votações maciças nos comunistas.

Para o ex-membro do Comité Central, é, no entanto, evidente a perda de influência do PCP do Alentejo. Por isso, revela que irá escrever uma carta à direcção do partido a propor a realização de um debate sobre "a situação social e económica da região e sobre a situação do partido no Alentejo pois desde 1982 estamos a perder autarquias e isto impõe uma reflexão mais profunda do que aquela, conjuntural, que é feita a quente nos dias seguintes aos actos eleitorais".

"Esta situação de perda de influência do PCP no Alentejo exige uma reflexão que, se não for feita, prejudica o PCP e a própria região pois o Partido Comunista é uma força positiva para o desenvolvimento do Alentejo."

Recusando avançar a sua opinião sobre as causas concretas que originam essa perda de influência - "terá de ser o debate que proponho a responder a isso" - António Murteira defende a necessidade de "dinamizar em ideias e acções" a intervenção política dos comunistas no Alentejo, num debate "que não será contra ninguém, mas para o qual não devem existir conclusões prévias".

Cinco anos depois de chegar à liderança do PCP (foi eleito secretário-geral a 28 de Novembro de 2004 durante o congresso realizado em Almada), Jerónimo de Sousa não conseguiu evitar a "erosão" comunista no Alentejo, que não será alheia à saída de alguns quadros influentes - retirou a confiança política a Alfredo Barroso (reeleito presidente da Câmara Municipal de Redondo à frente de uma lista de independentes), não evitou a ruptura com Manuel Coelho, em Sines (mais uma derrota histórica para a CDU) e a própria saída de Domingos Lopes, militante no PCP durante mais de 40 anos, terá tido influência nos resultados em Alandroal, onde integrava a Assembleia Municipal.

Em entrevista do DN, o ex-presidente da Câmara Municipal de Alvito, Lopes Guerreiro, município que João Penetra reconquistou para a CDU nas últimas autárquicas, considerou que apesar de a imagem de "bom chefe de família" transmitida por Jerónimo de Sousa ser "bonita de ver", "não tem tradução prática" na vida interna do PCP, onde muitos autarcas continuam "afastados" dos órgãos de direcção. "A estratégia tem sido de resistência e isso não permite grandes crescimentos". Para além de possibilitar ao Bloco de Esquerda "cavalgar a onda, capitalizando o descontentamento" face às políticas do Governo.




24 comentários:

  1. até parece que Fidel Castro se sentiria melhor se morasse em Mora

    ehehehehe

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  2. e até a jogar para o Luso

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  3. "A memória da opressão dos antigos latifundiários..."
    Porque já não há latifundiários em Mora, não é verdade... ou se os há, não têm real poder... ou têm real poder, mas ninguèm acha algum mal nisso, afinal, lá porque controlam quase toda a propriedade, isso não quer dizer nada, pois os autarcas é que são todo-poderosos, e decidiram que Mora está melhor desertificada...
    Ou os autarcas actuais substituiram os antigos latifundiários na questão do poder político, restando para os novos e "seminovos" latifundiários quase toda a riqueza do concelho, "apenas"...

    Pelos menos não vivemos em fascismo, e por isso usamos os nossos verdadeiros nomes à vontade, não é colegas blogers...

    se calhar tou enganado. OU NÃO?

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  4. com a coversa do presidente, vamos ter um karl marx alentejano, e ainda vão instituir novamente a URSS, a partir do Alentejo

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  5. Grupo Anti-cultura de Mora, Miguel estás lembrado? Ou já te esqueceste da triste figura que fizeste. Conta lá como foi.

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  6. Temos de convir que este miguel tamb não é um ilustre que possa argumentar muito... tzzzzzz

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  7. E ainda temos o camarada Valentim a declamar uns versos do Partido.E a camarada Maria Augusta a organizar excursões aos Reformados.
    E o camarada Manuel Carapau,o Caím e o Nécas que compram o Avante!!
    E agora mais uns quantos que eram do PPD e que agora são comunas,para mamarem os almoços e as excursões,da Camara e que cantam no Grupo dos Reformados!!

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  8. E os que recebem subsídios para arrancar oliveiras, e os que recebem subsidios para arrancar vinhas,e os que recebem subsudios para não semear, e os que recebem subsídios só porque têm amigos nos serviços agrários, e os que recebem subsídios de terras que não são deles e não cultivam, e toda essa escumalha subsidiodependente, que passa o tempo ociosamente nos cafés, toda essa gente que vive dos impostos de quem trabalha, esses não vos preocupa? 0 problema deste país é a Maria Augusta, o Caím ,o Necas e os que cantam no coro? É esse o vosso horizonte, o vosso limite de capacidade para intervir na sociedade? Ou será que é precisamente o leque dos subsidios, que vai passando por aqui?.

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  9. Ora aí está uma óptima proposta de pesquisa e análise para o Gato Morense.
    Quem são os que nesta terra vivem à pala dos nossos impostos, sem fazer nada, para alem de aquecerem com o rabo, as esplanadas dos cafés, e descansarem nas sedes de caçadores, espalhadas pelas produtivas terras antes ocupadas selvaticamente pelos criminosos trabalhadores rurais? Onde está o desenvolvimento conseguido através dos dinheiros públicos na agricultura? onde estão os postos de trabalho conseguidos na sequência do investimento na exploração agriculta? Quem pagou as piscinas nos montes, os jipes potentes e as moto quatro?.
    A agricultara está de "pousio", e certas cabecinhas, também.

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  10. - Ó sr. jornalista do DN, a sua máquina de RX deve estar avariada não?!... Você andou à procura da 'influência comunista' no Alentejo, mas parece que só encontrou foi a influência do PCP, principalmente aqui neste enclave territorial constituído pelos concelhos citados.

    De facto, fizémos (melhor: começámos a fazer...) a Reforma Agrária que, além dos inevitáveis acidentes de percurso, teve os grandes méritos de repovoar o interior alentejano e cultivar terras abandonadas pelos seus suseranos e que, se não tivésse sido açambarcada por uns e torpedeada por outros, seria hoje um dos pilares da nossa Sustentabilidade, mesmo e apesar das cotas de mercado e dos 'set-a-side'.

    Esse impulso revolucionário, porém não resistiu, foi derrotado há que reconhecê-lo. Devido a causas externas, mas também a fraquezas internas.

    Não será este o formato ou o momento para grandes análises. O tempo se encarregará de fazer a sua justiça e a memória não esquece. A nossa memória, a dos que ocuparam herdades incultas, elegeram comissões de trabalhadores, organizaram a produção com os saberes e meios de se que dispunham, enfim tínhamos por meta e bandeira o Bem Comum.
    De cada um de acordo com as suas possibilidades, a cada um segundo as suas necessidades.

    Porém a realidade actual nada, ou muito pouco, tem a ver com esse espírito. Vingou a perspectiva da ascensão social, recuperaram-se velhos modelos de reprodução social e a Transformação Social virou um conceito caduco. Estar bem na vida, ter casinha, 'pópó' e dinheiro para os 'trapinhos' parece ser o nec plus ultra do sentido da vida.

    E porque é que estamos assim? Onde estão as responsabilidades?... Ora pegue lá por esta ponta, sr. jornalista, investigue e talvez depois nos apresente uma dissertação mais enriquecida.

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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  12. Parabéns ao anónimo das 12:23 de 10 de Dezembro. Consigui aprender algo consigo.

    Quanto ao anónimo das 18 e 35, de 9 de Dezembro, o nome era Colectivo de Contra-cultura, referindo-se à cultura do neo-liberalismo. Nunca foi realmente de Mora. E recusei-me a ser instrumento das vossas briguinhas.

    Talvez se não fosse anónimo, eu pudesse lançar ataques pessoais directamente a si, desviando-me dos reais assuntos aqui expostos.
    Mas você é uma sombra, e eu uma pessoa. E como pessoa, sou vulnerável a tais ataques, eficientes e cobardes.

    Cumprimentos a todos

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  13. http://bombaliberdade.blogspot.com/2009/12/os-filhos-de-abril-sao-mais-que-mil-e.html

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  14. Sinogas a SECRETÁRIO GERAL DO PCP, JÁ!!!!!!!

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  15. Não fizeram o trabalho completo sobre as ucps,a reforma agrária teve o grande mérito de dar trabalho a muitas familias,isso é um facto,mas na recta final os camaradas que trabalhavam os campos não recebiam salário e os que pertenciam ás chamadas comissões encheram os bolsos com milhares de contos. Podia a justiça aproveitar esta onda anti-corrupção para verificar os sinais de riqueza desses antigos camaradas dirigentes e dos seus herdeiros.

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  16. Ai em Mora nem é preciso chamar a justiça para ver, o que está ao olhos de toda a gente, o que restou da UCP a Luta é de todos, que durante muitos anos 5 ou 6 "camaradas" dirigentes fizeram da cooperativa uma autentica sociedade anonima repartindo os dividendos resultantes do suor de todos aqueles que lá trabalhavam com o intuito de cooperar para um bem colectivo e que hoje e de uma forma completamente cega e iludida votam e elegem pessoas que mais ou menos e de formas actuais levantam os motivos para que se julgue tratar do mesmo, mas agora de gravata.

    passem bem, e nunca se esqueçam morenses, cada um só tem aquilo que merece,

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  17. José Eduardo dos Santos, ainda é marxista-leninista? Ainda mija fora do penico?E porque não convidar tão ilustre camarada para a Prova do Vinho em cabeção?!!Podia ser que fosse estabelecido um protocolo de geminação entre Cabeção e Luanda.E que este senhor pudesse investir no Turismo Morense!!!

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  18. Em Mora, a Matemática não assume especial complexidade: 61 por cento para a CDU, votação que sobe para 73,7 por cento na freguesia de Cabeção, uma das mais expressivas a nível nacional. "É uma terra com grande tradição antifascista, em que muitas pessoas foram presas e torturadas pela PIDE e cuja memória perdura", explica o autarca.

    Os cabecanenses até cresceram 5 cm co um presidente da terra, foi o seu bairrismo que levou a este resultado e não esta treta do engenhero. Aprendeu com o outro mentiroso que se foi.

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  19. Nem todos são afilhados do presidente...

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  20. Falta aqui dizer várias coisas, pelo menos em relação ao Concelho de Mora: seria bom que alguém tivesse a coragem de fazer uma história do período da chamada "reforma Agrária no nosso concelho.Porque na verdade, segundo me dizem, o que se passou, não foi a efectivação de uma Reforma Agrária à moda de países socialistas da altura, mas sim a preparação da reforma de alguns que se assumiram como substitutos os Mexias, dos Almeidas e de outros que eles acusavam de latifundiários.É ver o património de alguns que disseram ter sido os chefes da Reforma Agrária: São casas em Mora e noutros sítios (parece-me que em Évora,por exemplo), são filhos e noras ou genros com casas livres de empréstimos, são filhos e netos a mudar de carro, etc. Tudo isto seria legítimo se os seus rendimentos (todos são reformados, e sabemos o valor baixo das reformas)justificassem esses bens,mas vê-se claramente donde veio o dinheiro (dizem que se fizeram grandes negociatas de cortiça o dinheiro era só para alguns, "roubo" do gado (bom) de uma herdade que tinham ocupado, etc). Sou muito novo para ter tido conhecimento directo disto, mas alguém mais velho me chamou a atenção para isto e acredito que seja verdade.

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  21. Carros de luxo,vivendas,vinhas,lojas,o património dos camaradas de abril,obrigado reforma agrária.

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  22. Vinhas???
    Lojas???
    Vivendas???
    Carros de Luxo???
    Identifiquem lá os proprietários deste riquissimo património para todos ficarmos a saber quem são....

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  23. deves estar a precisar de ir á da clara dos óculos ó animal

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  24. Estes herdeiros das conquistas de abril,vulgo reforma agrária,já se passeiam em pópós de luxo,são os reis do ouro alentejano.

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