quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Câmara subsidia metade do preço dos remédios a idosos carenciados


Com uma reforma de "300 e poucos euros" por mês, Joana Carreiras, 61 anos, diz não ter possibilidades económicas para adquirir todos os medicamentos de que necessita. Por isso, adoptou uma solução de recurso: "Comecei a poupar nos comprimidos e deixei de tomar os da manhã."

Reformada por invalidez, esta mulher residente em Malarranha, concelho de Mora, beneficia da ajuda da autarquia, que comparticipa em 50% as des- pesas com medicamentos feitas por idosos com pensões inferiores a 325 euros mensais. Apoios que se estendam a outras autarquias do País (ver texto secundário). Mas nem assim o dinheiro chega para todos os gastos.

"Todos os dias tenho de tomar 16 comprimidos, são cem euros por mês", garante Joana Carreiras, que diz sofrer de problemas do coração e de estômago, entre outros. Como a despesa na farmácia é demasiado pesada, a solução foi radical: "Deixei de tomar os compridos da manhã, eram logo nove."

Viúva, Joana Carreiras tem ainda a seu cargo a mãe e o pai, respectivamente com 82 e 83 anos. Numa terra onde todos se conhecem, já chegou a levar medicamentos "fiados", que depois pagou ao receber o 13.º mês. Agora, resolveu "poupar" na saúde, pois o dinheiro "não dá" tudo. "Se não fosse este auxílio, nem sei o que seria de nós", refere.

Em 2009, o Gabinete de Apoio Social da Câmara Municipal de Mora apoiou 1170 idosos na aquisição de remédios, o que representa uma despesa de 114 093 euros.

Nos serviços financeiros da autarquia deram entrada só no ano passado 22 737 facturas relativas a despesas nas farmácias.

Todos os portadores do cartão do idoso beneficiam de uma ajuda de 50% no custo dos medicamentos comparticipados pelo Serviço Nacional de Saúde. O que ajuda a aliviar os encargos dos mais desfavorecidos.

Em declarações ao DN, o presidente da autarquia, Luís Simão, reconhece que, apesar deste auxílio, "alguns idosos, cujas pensões continuam a ser muito baixas, não têm possibilidades" financeiras para chegar à farmácia e aviar a totalidade da receita prescrita pelo médico. Daí o presidente da Câmara Municipal de Mora defender a necessidade de uma "maior atenção por parte do Estado".



Exemplos que existem noutras autarquias

Fonte da Associação Nacional de Municípios Portugueses diz que "não existe informação sistematizada" relativa ao apoio das autarquias a nível social, mas reconhece que exemplos como o de Mora "existem por todo o País", com pequenas variações ao nível da atribuição dos apoios.

Um dos exemplos mais recentes é o da Câmara Municipal de Leiria, que no passado dia 26 de Janeiro aprovou a comparticipação de medicamentos às famílias carenciadas do concelho, até um máximo de cem euros por ano. O apoio vai abranger cerca de mil agregados familiares cujo rendimento não ultrapassa os 70% da pensão mínima (243 euros).

A comparticipação de medicamentos aos idosos carenciados de Mora foi decidida depois de os autarcas terem tido conhecimento do caso de um homem que foi à farmácia e que, como tinha apenas 50 euros, pediu à farmacêutica para lhe aviar "os melhores". "Como se ele não precisasse de todos", recorda o actual presidente de Câmara, Luís Simão, reconhecendo que o apoio da autarquia "é uma boa ajuda" mas não resolve a totalidade dos problemas.

"É impossível agregados familiares que subsistem com reformas muito baixas fazerem face a todas estas despesas na farmácia, mais algumas a que não se pode fugir, como a renda de casa ou a electricidade."

Segundo Luís Simão, Mora foi o "primeiro município do País a dar este tipo de apoio social", com a criação do cartão do idoso, em 2001. De então para cá, o "benefício gerado" aos pensionistas ascende a 1,35 milhões de euros. "Não nos podemos dissociar deste papel de apoio social", resume.


DN

9 comentários:

  1. As Câmaras são um poder mais próximo do cidadão. Conhece-os melhor e conhece melhor os seus problemas. Os exemplos aqui apontados, são o espelho do que se passa no País.
    O poder central, tão ocupado com a alta politica e as suas envolvências subterrâneas, não tem tempo para se preocupar com os que só dão prejuízo.
    Seria muito melhor para todos, se os Municípios tivessem poder financeiro para cuidar de todas as áreas sociais.
    Talvez a regionalização possa ajudar...

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  2. Já ouviram falar no complemento solidário do idoso? é uma excelente ajuda, bastava haver alguma divulgação por parte das entidades mais próximas da população.

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  3. Já nos chega um Alberto J. Jardim

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  4. O senhor presidente quer ser autarca modelo, mas da sua cabecinha ainda não vimos nada de novo e importante. Limita-se a gerir o "viro-disco" e a lançar muitos foguetes. Quer fazer parte da coluna cor de rosa da especialidade? Mais trabalho e mais modéstia é o que se quer, ou quer governar isto a partir dos media.

    Tamos tramados, a leste nada de novo.

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  5. Nunca me passou pela cabeça, que uma má prática levada a cabo durante 14 anos tenha ainda fervorosos seguidores.
    O país está doente, vivemos politicas virtuais com realidades muito duras, que afectam cada vez mais gente.

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  6. @20:14

    Já percebi que não está contente com o novo presidente. Tudo bem. Mas importa-se de opinar sobre o tema do post? È que acabamos por não perceber a sua posição. Os Municípios têm ou não, importância na menorização dos problemas da 3ª idade, substituindo-se mesmo ao governo??.

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  7. Parabéns a todos pelo discurso construtivo.

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  8. Atenção às prioridades estratégicas do concelho...,
    1 350 000 euros a comprar medicamentos em 8 anos é muita fruta!
    Seria porventura mais ajuizado a aplicação proporcional dessa verba em medidas de medicina preventiva: correcção do sedentarismo, promoção duma dieta alimentar mais equilibrada, propostas de estilos de vida mais saudáveis, mais e melhor apoio aos programas de 'envelhecimento activo', etc.

    Sendo de louvar a apoio aos idosos desvalidos, dever-se-ia evitar que os mesmos ficássem vistos como vìtimas inocentes do que pode ser interpretado, digamos, como...assédio político.

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  9. Amigo @ o unico problema nesta questão é que estamos a gastar o dinheirinho que é de todos nós e muito provavelmente assim o estado acaba por não se sentir obrigado a fazer as reformas necessárias para que as autarquias o deixassem de fazer ou seja fazer politicas eleitoralistas destas é fácil o dinheiro não é deles(muito fácil)

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