sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Plantar na horta para ter no prato




Valentim José, 79 anos, trabalhou a vida inteira na agricultura, participou na reforma agrária e dirigiu a cooperativa local. Não entende o abandono dos campos, nem as "grandezas" dos políticos e critica o aumento do fosso entre ricos e pobres. A reforma de 300 euros mal dá para comer.


Era o mais novo de três irmãos e seguiu as pisadas dos mais velhos quando estes decidiram deixar a escola. Estudou apenas até à 3ª classe e, ainda criança, foi guardar porcos para os montados de Mora, concelho alentejano onde nasceu e ainda hoje reside, após uma vida inteira de trabalho no campo.

Mais de 40 anos na agricultura valem-lhe uma reforma de 300 euros que, juntamente com a da mulher, tenta agora engordar com o que planta nas traseiras de casa. Batatas, couves, tomate, feijão, pimentos e cebola, tudo o que cai na panela da sopa, porque "o dinheiro chega cada vez menos" e "o que a gente arranja com a nossa mão já não compra no supermercado". De carne quase só comem frango e peixe pouco entra lá em casa.

Valentim José tem 79 anos e a mulher, Maria Rosa de Assis, 78. Conheceram-se na agricultura, quando ambos trabalhavam ao dia, ganhando "25 escudos". "Era aquilo que eles queriam pagar. Não podíamos reivindicar nada", recordam, lembrando os nove anos de namoro, sempre ao domingo, à vista da mãe dela, e sem as "modernices" de hoje. "Antes era aperto demais. Agora é liberdade a mais", resume Valentim.

Depois, deu-se o 25 de Abril de 1974, as nacionalizações, as expropriações, a "evolução". Valentim, militante do PCP, envolveu-se activamente na reforma agrária. Primeiro na formação das comissões de trabalhadores, depois na criação e gestão da cooperativa "A luta é de todos", que chegou a ter 450 trabalhadores e "16 tractores". Sobreviveu 20 anos.

"Unimos tudo: o que fosse bom para uns, era bom para todos; o que fosse ruim para uns, era ruim para todos", diz Valentim, lamentando que esse desígnio tenha sucumbido aos anos de "retrocesso", como classifica os governos de Mário Soares e o seu "socialismo em liberdade".

"Isto não é socialismo nenhum! Socialismo é as pessoas estarem mais perto umas das outras e os rendimentos estarem bem distribuídos", diz Valentim, que acompanha a par e passo as notícias na televisão e lembra-se bem de ter ouvido, recentemente, que Portugal foi o país dos 27 onde "a pobreza aumentou mais e onde a riqueza aumentou mais: os pobres ficaram mais pobres e os ricos ficaram mais ricos". "Sempre houve gente a viver bem e gente a viver mal. Mas as desigualdades sociais estão muito piores do que estavam", afiança.

Valentim não poupa nas críticas aos políticos pelas suas manias de "grandeza" e pela situação a que conduziram as finanças públicas. "Se eles não gastassem mais do que podem, isto não estaria assim. É comboios, é submarinos, é pontes... Eu não sei se a gente tinha necessidade destas coisas todas", diz ele que, aos quase 80 anos, faz contas fáceis de cabeça ao que o novo aumento do IVA vai provocar nas contas lá de casa.

Na farmácia - onde deixam em média 100 euros/mês - temem as mudanças com o fim da comparticipação dos medicamentos genéricos a 100%. E é certo que vão continuar a "encurtar" nos comprimidos para não esvaziar a carteira, tomando-os só quando as dores apertam. O que também não entra na cabeça de Valentim são os subsídios para ter as terras abandonadas. "O pouco que se produzisse era o menos que se ia comprar lá fora e ficava cá o rendimento", diz, ele que dá o exemplo lá em casa.

19 comentários:

  1. Uma lição de vida, que provavelmente vai ser aqui achincalhada.
    Este País está cheio de Valentins, que passaram a vida a trabalhar para enriquecer os donos do poder, mas hoje mal têm para comer.
    Mas o que importa isso? Importante é malhar no "rei de pavia", no "rei de Cabeção", no "rei das bifanas" e nos "comedores de almoços".
    Portugal???? isso é o quê??????

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  2. Valentim não poupa nas críticas aos políticos pelas suas manias de "grandeza" e pela situação a que conduziram as finanças públicas. "Se eles não gastassem mais do que podem, isto não estaria assim. É comboios, é submarinos, é pontes... fluviários e muitas rotundas

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  3. E quando as Cooperativas não entregavam os descontos dos trabalhadores na Caixa de Previdência, sim no tempo da Reforma Agrária.
    Contem lá como foi.

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  4. "provavelmente vai ser aqui achincalhada." Porquê?

    Não será porventura em si mesmo já um achincalhamento, instituir esse nível de análise para medir o que se considera "uma lição de vida"?

    Eu reconheço nesta trajectória de vida brilhantemente descrita, o paradigma da exploração do trabalhador rural alentejano e do beco aonde deram as portas que Abril abriu. Mas Valentim José não é Deus e, na perspectiva dessa absurda comparação, também errou como todos os outros, ditos Humanos.

    Para uma certa Esquerda, na sua visão unilateral do mundo, as vítimas da opressão não são seres humanos inteiros, não têm capacidade de fazer escolhas, são como as crianças, não podem deixar de ser como são e a culpa do que fazem nunca é deles, mas sim da "sociedade" dos adultos.
    São por isso inimputáveis e a responsabilidade do que fazem ou deixam de fazer por sua livre escolha, não é deles. É dos outros.

    Quando houver capacidade de reconhecer os erros próprios e coragem de, assumindo-os, corrigi-los, então "isso" chamado Portugal talvez seja capaz de, por exemplo, não deixar ir embora filhos de outros tantos Valentins.

    Um abraço Valentim.

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  5. está a ficar interessante ... isso não conta .... amigos ainda se podiam ter feito mais umas rotundas e umas avenidas e talvez mais umas touradas e uns concertos , agora está a chegar a factura de toda a imcompetência, palhaçada, ignorância e acima de tudo muita estupidez mas o pior é que eu também agora vou ter que pagar pela merda que todos essses palhaços fizeram !!!

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  6. Neste país abundam equipamentos, tipo: Pavilhões de exposições, auditórios, campos de futebol, praças de touros, aeródromos, pavilhões desportivos. Tudo isto subaproveitado, porque não se avaliou da necessidade da sua construção.
    Fazem falta: Bibliotecas e espaços de convívio cultural.

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  7. @00:36

    Casa da Cultura de Mora
    Rua de S. Pedro
    7490-208 Mora
    Telefone: 266 439 070
    Fax: 266 403 260

    Será pouco, mas é de boa vontade. Quantas vezes a aproveitaste? E se não está como gostas, porque não contribuis para a pores ao teu gosto e melhorá-la?

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  8. Com os 14 198 euros mensais já ia sendo tempo de mostrar serviço...

    Ascenso Simões, ex-deputado do Partido Socialista e ex-coordenador de campanha de Sócrates, dá hoje um ar de graça no seu novo lugar na ERSE e vem propor um aumento de 3,8% nas tarifas de electricidade para 2011.
    O ex-secretário de Estado da Administração Interna e da Agricultura no primeiro Governo de José Sócrates vai ganhar um salário mensal bruto de 14 198 euros como vogal da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos – ERSE. Com a nomeação de Ascenso Simões para este cargo pelo Executivo na passada quinta-feira, este é o segundo socialista próximo de Sócrates a ser colocado num organismo regulador desde Novembro de 2009.

    Ascenso Simões era membro do secretariado nacional do PS. O salário de cada vogal da ERSE corresponde, segundo esta entidade reguladora, "a 85 por cento do vencimento do presidente da ERSE, sendo actualmente de 14 198 euros". Já o líder da ERSE, Vítor Santos, secretário de Estado no tempo de António Guterres, ganha 16 704 euros por mês.

    (Publicado no CM e em vários blogs)

    E digo eu…

    Por isso é que o Ascenso Simões faz o que faz e ganha o que ganha.
    Por isso é que o Vítor Santos faz o que faz e ganha o que ganha.
    Por isso é que o Mexia faz o que faz e ganha o que ganha.
    E por isso é que muitos de vós não fazem nada e pagam o que pagam.

    E andam vocês preocupados com uma rotundazinhas…

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  9. As casas de banho do recinto do Parque de Feiras, são bem maiores que a Biblioteca existente na Casa da Cultura de Mora.
    Rua de S. Pedro
    7490-208 Mora
    Telefone: 266 439 070
    Fax: 266 403 260
    Sem comentários.

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  10. A Reforma Agrária, poderia ter sido um projecto interessante, se o oportunismo não tivesse tomado conta do processo, o PCP tem muitas responsabilidades na falência do processo da Reforma Agrária.
    A aliança operária camponesa teatral e desastrosa que o PCP promovia, que causou prejuízos acentuados às "Unidades Colectivas de Produção" outro teatro importado da URSS, vinham excursões supostamente para ajudar nas colheitas, era um desastre o estado em que ficavam as searas de tomate por onde passava esses tornados demolidores, depois era empanturrar aquela gente toda em faustosas almoçaradas, onde alguns reprodutores, animais de raças seleccionadas foram banqueteados.
    O Sr. Valentim Correia, merece de todos nós o respeito que qualquer ancião deve merecer, mas é preciso ficar claro que não estamos a falar de inocentes.
    Poderia contar muitas historietas ilustrativas, desse período que vivi com toda a intensidade dos meus 22 anos de idade.
    Mas não é este o local indicado nem o momento próprio.
    Um grande bem haja!

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  11. Ó das 9,45.
    Cada um frequenta os sítios que mais gosta.

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  12. @ das 1.18:

    Achas que se faz kultura naquele edificio. Aquilo é o elefante branco do comunismo em Mora, aqui o comunismo renega a kultura e a instrução do povo. Abre os olhos, ou então, fica de boca fechada para não sair palermices.

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  13. O problema não está na popularidade ou frequência de utilização. Casas de banho servem para c... e m..., enquanto Casas da Cultura servem para Educar.

    A desproporção apresentada relativamente aos dois espaços, sendo criticável, até nem é escandalosa se tivermos em linha de conta a escala em que estão inseridos. A questão é outra.

    Abreviando prolegómenos, já no consulado Sinogas apareceu como promessa eleitoral a construção de uma Biblioteca de raiz, coisa que nunca passou disso e agora desapareceu por completo das opções de investimento autárquico.
    É aqui que está o busílis.

    A uma política cultural muito dependente de manifestaçõs artísticas realizadas por grandes estrelas mediáticas, ao serviço de interesses financeiros próprios e, por isso, na sua maioria, manifestações vazias e estupidificantes para que os culturalmente mais pobres vão ficando cada vez mais pobres, mais burros e mais gado manobrável, devia opôr-se uma Oferta Cultural mais válida onde uma Biblioteca Pública desempenhasse um papel principal.

    Prometam, na próxima campanha eleitoral, aquilo em que realmente acreditam. Digam com todas as letras: "Não vamos promover a vida cultural das populações. O mundo é um imenso mar duma só cor e tudo o que mexe é para dar votos/lucro ou então morre".
    Defendam isto, tenham a coragem de assumir esta ideologia, sem disfarces, para que nós, eleitores ainda não completamente estupidificados, possamos não votar em vocês nas próximas eleições.

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  14. Aí Valentim Valentim.Tu das Couves e Feijões e Botas uns Poemas, o outro ,o de Gondomar da Figorificos e Televisões.Tem algumas parcenças, a Primeira é de serem contra o PS7Socrates.
    Mas há outras....

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  15. Querias o quê, o povo é iletrado, só lhe interessa o embrutecimento da caixa mágica do canal tvi + mais uns passeios (alguns são profissionais do passeio) mais umas almoçaradas e tá tudo satisfêto. Agora cá livros, o people pode ficar informado e por os miolos a funcionar e depois começar a ????? e isso não interessa. Komunistas desde o berço até ao caixão, pá. E aqueles novos comunistas, desde que começaram a usaar bibe, pá. abaixo o Nobel chinês, pa

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  16. Amigo Valentim não se queixe; até parece mal a quem conhece a história (ou estória) da cooperativa!

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  17. Quem assistiu à praça, ou comprou ou vendeu.
    Por isso não te faças santo.

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  18. Ó Valentim pagas Renda de Casa?!

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  19. Ó Gato mete aqui outra charenga qualquer.

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